Como se faz a rapadura? Esse doce tão popular no Brasil ainda é fabricado de maneira artesanal em várias regiões do país, e a comunidade de Bonsucesso em Várzea Grande é uma delas.
A atividade de fabricação da rapadura artesanal na Comunidade de Bonsucesso, em Várzea Grande – MT, não é somente uma atividade econômica, é também, uma atividade cultural que preserva a herança social da comunidade.
Atualmente, existem dois engenhos para fabricação de rapadura em Bonsucesso que funcionam de terça a quinta no período da manhã.
Para aprender como é feita a rapadura, nós acompanhamos o senhor Flávio Ferreira Fortes, 50 anos, nascido e criado na Comunidade de Bonsucesso, filho dos finados Seo Lauro e Dona Buguela, cujo engenho leva o nome.
Como se faz a rapadura artesanal
Tudo começa bem cedo, às 5h da manhã, com a preparação para a coleta da cana.
O Carro de Boi – Diogo e Jorge, os dois bois de Flávio, são presos pela canga – peça colocada no pescoço, para prendê-los à uma longa trave que liga os bois ao carro. Antigamente, a roda do carro de boi era feita de madeira com um fita de chapa de ferro, e por esse motivo tinha um som estridente que anunciava a sua passagem. Hoje, foram substituídas por rodas com pneus.
A Coleta da Cana – O canavial fica na própria comunidade e lá se faz a colheita da cana: retira-se as mais velhas, deixando as mais novas na moita. Esse manejo permite que sempre haja cana madura para ser utilizada.
Moagem da cana – De volta ao engenho, é hora de moer a cana e fazer o caldo. Antigamente a moenda era por tração animal, hoje foi substituída pela moenda elétrica. O engenho de Dona Buguela, por ser no meio da cidade, recebe visitantes que param para beber o caldo e conversar com Seu Flávio.
Apuração – Trata-se do processo de limpeza e cozimento do caldo da cana. Todo o caldo é colocado no tacho de cobre, sobre a tacuru (fornalha de chão), que vai esquentando, fervendo e apurando – esse processo retira as impurezas, pedaços de cana que ficaram no caldo.
Flávio explica que o processo dura mais ou menos 3 horas, “agora é paciência e força no braço”, diz Flávio, referindo-se ao trabalho de ficar escumando o caldo para que não suba com a fervura. Enquanto ferve, se utiliza o Chico Magro, uma planta da região que ajuda a clarear a rapadura.
O ponto da rapadura – uma pequena amostra é colocada em um recipiente com água, se não desfazer, é que atingiu o ponto.
Resfriamento – O tacho é retirado do fogo e colocado em cima de uma “cama” feita de cana, para o resfriamento. Flávio vai mexendo até dar o ponto para“enformar”.
Modelagem – Hora de “enformar”. Retira-se a rapadura do tacho com uma cuia e vai despejando na forma. Esse processo deve ser rápido para que o doce não endureça na panela.
Está pronta a rapadura! Só embalar e vender. Um tacho produz cerca de 20 rapaduras que são vendidas a R$8,00 cada (preço de 2016) e podem ser adquiridas no próprio local, nas peixarias da comunidade e na feira de Várzea Grande.
É importante ressaltar que o processo é totalmente sustentável: o bagaço serve para adubo e também para alimento para os animais. Não há desperdício, tudo volta ao solo.
Serviço:
Contato: (65) 3686 7714 – Seu Fávio
Como chegar: De carro (acesse o maps) e de ônibus: no Terminal André Maggi em Várzea Grande, pegue o ônibus que vai para Pai André.
Fonte: Lucas de Albuquerque Oliveira – Os caminhos e descaminhos nos engenhos de rapadura de Bonsucesso – Várzea Grande – MT
Tiemi Oto, editora do Mapa do mato, acompanhou todo o processo de fabricação da rapadura artesanal em 24 de maio de 2016.