A devoção a São Pedro na Comunidade de Bonsucesso em Várzea Grande é antiga. Teve início na década de 60, com a família Pinheiro, que todo ano – no dia 29 de junho – rezava o terço em gratidão ao santo.
Dona Marina, de 73 anos, conta que tudo começou com sua mãe, de quem herdou a fé em São Pedro, juntamente com a pequenina imagem, carinhosamente apelidada de Pedrinho. “Ela era devota e rezava o terço todo dia 29, e eu faço o mesmo até hoje” diz Dona Marina.
No dia 29 de junho de 1979, Dona Guti e Dona Lenir foram até as margens do Rio Cuiabá, no barranco atrás da igreja da comunidade para comprar peixe. Chegando lá, encontraram Seu Meinaldo e disseram que iam fazer o almoço em homenagem a São Pedro. Como era para o santo, seu Meinaldo decidiu doar os peixes. Outros pescadores presentes que ouviam a conversa também ofereceram peixes. Com os peixes em mãos, elas saíram convidando a comunidade para o almoço, surgindo assim, a primeira peixada comunitária em homenagem ao Santo dos Pescadores.
No ano seguinte, em 1980, os pescadores da comunidade se organizaram pela primeira vez para realizar a festa de São Pedro, ou a Festa do Pescador. A comemoração envolvia a pesca, limpeza e preparo do alimento, e tudo acontecia às margens do Rio Cuiabá. Preparavam o peixe no tacuru – um tipo de fogão feito no chão, com três pedras.
O alimento era distribuído gratuitamente após as celebrações religiosas – com a reza do terço da família de Dona Marina e a presença de Pedrinho em sua canoa esculpida em madeira. Com o tempo, foram presenteados com uma imagem maior de São Pedro, que atualmente é guardada na Igreja do Divino Espírito Santo, na própria comunidade. Desde então, todo ano, os festeiros começam a procissão buscando Pedrinho na casa de Dona Marina e de lá partem para a liturgia.
A organização da festa é realizada pela Associação de Pescadores, juntamente com os festeiros e equipe da igreja local. A comunidade começa a se movimentar com 3 meses de antecedência e suas atividades vão desde arrecadação de patrocínio até a liturgia que envolve o evento. Uma semana antes da festa, os festeiros levam a bandeira da esmola pela comunidade, de casa em casa, para arrecadarem fundos para o café da manhã, para a decoração da rua e da igreja, para a confecção de camisetas e brindes religiosos.
A liturgia popular e comunitária compreende a procissão de canoas – onde os festeiros carregam as imagens do Santo por um trecho do rio -, seguida pela procissão terrestre e, após estas, um café da manhã coletivo. Logo após, ocorrem a subida do mastro e a missa em homenagem a São Pedro e aos pescadores, culminando na famosa peixada, que todo ano atrai mais de 3 mil pessoas, na hora do almoço. Todo o cortejo é acompanhado pelos cururueiros, que vão tocando durante todo o caminho até a subida do mastro.
A missa é uma celebração alegre, dinâmica e com muitos cantos – é emocionante a congregação e fé dos devotos.
Enquanto toda a liturgia acontece, parte da comunidade está na cozinha da festa. Ainda no dia anterior, foram construídos os fogões à lenha e também feita a limpeza do peixe. Logo pela manhã, já se começa a descascar a mandioca, encapar as postas de peixe e esquentar a gordura para a fritada. Às 10h30 tudo está no fogo. Ao final da missa, os devotos seguem para o local onde a peixada será servida.
Antigamente, o peixe era servido gratuitamente. Com a participação cada vez maior de visitantes e a redução do pescado no Rio Cuiabá, a refeição passou a ser comercializada, por um valor simbólico.
A Festa de São Pedro na comunidade de Bonsucesso encanta pela liturgia, pela fartura do alimento, pela organização e mobilização da comunidade. O processo de produção da festa potencializa as relações sociais entre a comunidade e os visitantes – muitos deles são parentes que vem em visita aos familiares. Desse modo, a comunidade fortalece os vínculos de pertencimento familiar e comunitário.
Serviço:
Quando acontece? Anualmente, no dia 29 de julho
Onde? Na Comunidade de Bonsucesso em Várzea Grande/MT
Como chegar? De carro (acesse o maps) e de ônibus: no Terminal André Maggi em Várzea Grande, pegue o ônibus que vai para Pai André.
Mais infos: 65 9 9928 5359 – Cilbene Maria – Presidente da Associação de Turismo e Cultura de Bonsucesso.